quarta-feira, 2 de setembro de 2020

VÍDEO: mulher e cachorro são atacados por cão durante passeio no Jóquei

 Um cão da raça rottweiler, responsável pela segurança de uma empresa de turismo, conseguiu se soltar da coleira e realizar o ataque.

Sarah Peres
postado em 27/07/2020 18:10

A mulher sofreu perfurações profundas na perna e no braçoUma mulher foi atacada por um cão, da raça rottweiler, enquanto passeava com o cachorro no Jóquei. O caso ocorreu na última quinta-feira (23/7) e foi gravado por câmeras de segurança do local. A vítima registrou um boletim de ocorrência na 38; Delegacia de Polícia (Vicente Pires) por lesão corporal e omissão de cautela na condução de animais.

A servidora pública Tattiane Batista Soares, 40 anos, levava o vira-lata Otto, de cinco anos, para passear na via pública quando ocorreu o ataque. Ela relata que tentou se afastar do rottweiler, que estava na companhia do dono, mas o cachorro conseguiu se soltar da coleira e, então, mordeu a mulher e seu animal de estimação. O animal realiza a guarda de uma chácara de uma empresa de transporte coletivo.
Ao menos três câmeras de vigilância filmaram o momento do ataque. Uma das imagens mostra Tattiane puxando Otto para o outro lado da rua. Em uma das filmagens, por volta dos 40 segundos de vídeo, pode-se ver a servidora ficando de costas, momento em que o rottweiler se solta do dono e corre para cima das vítimas (veja o vídeo abaixo). ;Minha primeira reação foi puxar o Otto pela coleira para protegê-lo. Mas o cachorro mordeu meu braço esquerdo, e acabei caindo;, conta.
[VIDEO1]

;Já no chão, o cachorro mordeu minha perna direita. Foi quando acabei soltando o Otto, que também foi abocanhado. Minha única reação foi gritar por socorro, porque o dono do rottweiler não conseguia segurá-lo. A nossa salvação foi um motorista que viu o ataque, correu para o carro dele que estava estacionado, e buscou uma garrafa de água;, explica.
Em uma segunda filmagem é possível ver o homem buscando o objeto e correndo até Tattiane. ;Ele jogou a água no rottweiler, que parou de atacar o Otto. Nessa hora, o dono do cachorro conseguiu segurá-lo, deitando-se no chão. Só então consegui me afastar com o meu cachorro, e os vizinhos puderam nos ajudar;, relembra.
A servidora precisou levar pontos nos ferimentos
Tattiane sofreu perfurações profundas na perna e no braço. Ela foi socorrida pelo Corpo de Bombeiros, que realizou os atendimentos iniciais. Depois, a servidora foi encaminhada para um hospital, onde precisou levar pontos nos ferimentos e ser medicada. Já Otto foi levados por vizinhos a um veterinário e permaneceu internado por dois dias.

;Minhas feridas estão inchadas e febris, e ainda sinto dor. Estou com um pouco de dificuldade de locomoção, mas inicialmente, não terei nenhuma sequela estética ou quanto ao funcionamento dos membros. O Otto sofreu mordidas na altura do abdômen e conseguiu sobreviver, mas está muito assustado. Agora, o que queremos, é nos recuperar;, frisa Tattiane.
Otto sofreu ferimentos no abdômen

[SAIBAMAIS]O Correio entrou em contato com o dono do rottweiller por mensagem e ligação, abrindo o espaço para manifestações. No entanto, até a mais recente atualização desta matéria, não obteve retorno.

Nota de repúdio

Após Tattiane sofrer o ataque, a Associação dos Moradores da região do Jóquei (AmorJoquei) lançou uma nota de repúdio quanto ao caso. "É com repulsa e horror que miramos o recente episódio, ocorrido na área de passeio da nossa via marginal, na altura das chácaras 5 e 7, no qual a moradora e seu pequeno cachorro foram brutalmente atacados pelo cachorro da raça rottweiler propriedade da Empresa Michellon. A cena só cessou após o animal ter água jorrada em sua boca, além de vários transeuntes a ajudaram no socorro, devido a gravidade da vítima. Mordeduras profundas foram deixadas na moradora e em seu cachorro;, destaca o texto.
A associação salienta ainda que ;anteriormente a este fato, recebeu inúmeras reclamações informais, pois continuamente foi observado pela comunidade o livre passeio dos animais pela área pública da região, sem o devido cumprimento do dever legal do uso de focinheira, de guias e das condutas adequadas para o porte e a raça dos cachorros, que por si somente, já representa risco aos que o cercam.;
;Portanto, repudiamos e esperamos mudança na conduta com seus cachorros rottweiler pela empresa Michelon Transporte e Turismo. Esperamos também que fato de tamanha gravidade possa ser criminal e civilmente responsabilizado por seus atos e promover os devidos reparos;, finaliza a nota.

Idoso tem pé amputado após ataque de pitbulls ao lado de obra; filho culpa construtora por descuido

 Cães escaparam por baixo de portão e surpreenderam catador de recicláveis de 71 anos em Ribeirão Preto. Construtora disse que animais eram de empresa terceirizada e que ajuda nas investigações.

Por EPTV 1

 

Um catador de recicláveis teve o pé direito amputado após ser atacado por dois cães da raça pitbull que escaparam de dentro de um prédio em obras na zona Leste de Ribeirão Preto (SP) no fim de semana.


A família da vítima culpa a construtora pelo descuido em relação aos animais e afirma que os cachorros passaram por baixo de um portão e surpreenderam Luiz Quintino, de 71 anos, enquanto ele recolhia materiais do lado de fora. O paciente continua internado.


"Era o ganha pão dele, ele que cuida da minha mãe, sempre cuidou da minha mãe. (...) Está muito difícil pra gente", afirma Ademir de Souza Quintino, filho da vítima.

Idoso de 71 anos teve o pé amputado após ataque de pitbulls em Ribeirão Preto (SP) — Foto: Reprodução / EPTV

Idoso de 71 anos teve o pé amputado após ataque de pitbulls em Ribeirão Preto (SP) — Foto: Reprodução / EPTV


A Vitta Residencial, responsável pelo empreendimento, lamentou o ocorrido e informou que os cães que faziam a vigilância no local eram de uma empresa terceirizada. Também comunicou que ajuda nas investigações.

A empresa apontada pela construtora, por outro lado, alegou que, um dia antes do ataque, alertou sobre problemas no local, mencionando a existência de um vão entre a grade do portão e o chão por onde os cães fugiram, mas que os responsáveis pela obra garantiram que não havia perigo.


A Vitta disse que não entrará no mérito da responsabilidade.

Ataque


O acidente aconteceu no sábado (22) na Alameda Francisco Cristofani, no Parque dos Lagos. A vítima estava ao lado de uma construção quando foi mordida pelos dois cães. O asfalto ficou sujo com o sangue do idoso.


"Não tinha placa de 'cachorro bravo'. Meu pai estava do lado de fora pegando reciclável, os cachorros pegaram ele de costas", reclama Quintino.

Um motoqueiro que passava pelo local viu o idoso ferido e chamou o Corpo de Bombeiros, que socorreu a vítima e levou para a Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto.

O catador de recicláveis passou por cirurgia, ficou internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e o estado de saúde dele é estável, segundo o hospital.

Idoso atacado por pitbulls estava ao lado de obra na zona leste de Ribeirão Preto (SP) — Foto: Reprodução / EPTV

Idoso atacado por pitbulls estava ao lado de obra na zona leste de Ribeirão Preto (SP) — Foto: Reprodução / EPTV

Idoso tem pé amputado após ataque de pitbulls ao lado de obra; filho culpa construtora por descuido | Ribeirão Preto e Franca | G1

Raríssimo cão cantante foi redescoberto em meio selvagem

 



Um estudo publicado no periódico PNAS (1) redescobriu em meio selvagem uma antiga e notável linhagem canina pensada extinta por 50 anos. Os cientistas descobriram que a população canina ancestral dos cães cantantes da Nova Guiné em cativeiro ainda persiste em regiões de alta altitude da Nova Guiné. Apesar de pertencerem à mesma subespécia dos cães domésticos (Canis lupus familiaris), esses animais eventualmente se tornaram selvagens e carregam variações genômicas e anatômicas únicas. Em especial, possuem uma distinta vocalização que pode inclusive ajudar esclarecer a evolução da nossa própria vocalização (Homo sapiens).

O cão cantante da Nova Guiné (CCNG) é um raro canídeo vivendo nas regiões montanhosas da Nova Guiné quando em meio selvagem natural, sendo o maior predador terrestre dessa ilha. Esses cães produzem uma característica vocalização harmônica, descrita como um "uivo de lobo com harmônicos do canto de baleias". Por anos, biólogos conservacionistas têm concluído que o NGSD poderia estar extinto ou quase extinto no meio selvagem devido à perda de habitat e à invasão de linhagens caninas do continente e de cães de vilas próximas. Como possuem uma natureza tímida e uma tendência a viverem em altas altitudes - bem distante das vilas - os cães selvagens habitando as montanhas da Nova Guineia são raramente observados. Aliás, até 2016, esses cães haviam sido fotografados apenas duas vezes (1989 e 2012).

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No vídeo abaixo, é possível ver um espécime de cão cantante uivando:


             

          

Os cães da Oceania, populações únicas encontradas na Austrália, Nova Zelândia, e as nações insulares da Melanésia, Micronésia e Polinésia, são originários de populações caninas do Leste Asiático, com evidência arquelógica suportando a chegada desses cães há pelo menos 3,5 mil anos na região. No entanto, o tempo de dispersão do CCNG para a Nova Guiné permanece incerto devido à falta de evidência arqueológica na ilha. A primeira descrição do CCNG ocorreu em 1987, após um espécime ter sido localizado e coletado a cerca de 2100 metros de altitude, na Província Central. Apesar de similar ao dingo (Canis lupus dingo), esses cães representam uma população distinta, como evidenciado tanto por morfologia quanto por comportamento. Originalmente o CCNG havia sido classificado como uma espécie distinta (Canis hallstromi), e a sua taxonomia permanece controversa até hoje, em parte devido à disponibilidade apenas de espécimes capturados


Resultados de uma população fundadora muito pequena, não mais do que 200 a 300 cães NGSD permanecem vivos hoje em cativeiro, em grande parte procriados para propósitos de conservação.


Em 2016, uma expedição liderada pela Fundação dos Cães Selvagens Montanhosos da Nova Guineia (NGHWDF) (2), em colaboração com a Universidade da Papua, reportou a existência de 15 cães selvagens vivendo em alta altitude no lado ocidental da ilha da Nova Guiné próximo da Mina Grasberg. No entanto, apenas fotos e amostras fecais foram coletadas, insuficiente para uma análise genômica nuclear (DNA presente no núcleo da célula). Um estudo de campo subsequente conseguiu a coleta de amostras de sangue de três desses cães, assim como dados demográficos, morfológicos e comportamentais.


No novo estudo, os pesquisadores usaram as amostras de sangue coletadas para uma detalhada análise genômica nuclear desses espécimes selvagens, com o objetivo de determinar se tais cães representam a população original dos cães CCNG hoje em cativeiro. Os cães associados às amostras, morfologicamente, possuíam notável similaridade tanto com dingos quanto com o NGSD.


Nesse sentido, o genoma nuclear das amostras foi comparado com o genoma nuclear de 16 cães CCNG em cativeiro, 25 dingos e mais de 1000 cães de 161 linhagens caninas domesticadas. Os resultados da análise comparativa mostraram que os cães selvagens da Nova Guiné encontrados na expedição de 2018 e os cães cantantes possuíam um perfil genético quase idêntico. Ambos se mostraram próximo relacionados aos dingos, e um pouco mais distantes filogenicamente de outros cães com origem no Leste Asiático, como o Chow Chow, Akita e o Shiba Inu. Várias sequências genômicas são únicas nos cães cantantes em relação às outras linhagens caninas.



O estudo sugeriu que os cães cantantes da Nova Guiné representam uma população única e arcaica de cães, distinta de outros cães na ilha, e oriundos diretamente da mesma população ancestral cujos descendentes são representados pelos atuais cães selvagens presentes nas regiões montanhosas da Nova Guiné. Segundo os pesquisadores do novo estudo, esses cães selvagens e os cães CCNG em cativeiro são, essencialmente, a mesma linhagem canina, possuindo algumas diferenças genômicas devido à separação física entre esses cães por várias décadas e acasalamentos intra-populacionais entre os cães cantantes em cativeiro. Ou seja, os cães cantantes não estão extintos no meio selvagem.


Os pesquisadores também encontraram evidência de mínima introgressão no genoma dos cães selvagens da Nova Guiné, provavelmente de uma população ancestral às linhagens caninas modernas.


O novo achado pode beneficiar os esforços de conservação dos cães cantantes da Nova Guiné, onde espécimes selvagens podem ser introduzidos às populações em cativeiro, aumentando a variabilidade genética dos cães sendo procriados e o potencial de reintrodução no ambiente selvagem. Os dados genômicos podem também ajudar a esclarecer melhor o processo de domesticação dos cães a partir dos lobos cinzentos (Canis lupus).


Além disso, até o momento, os estudos sobre a expressão genômica da vocalização nos humanos têm sido conduzidos basicamente em aves. Como humanos são biologicamente mais próximo relacionados aos cães do que as aves, os cientistas podem agora vislumbrar melhor como a variabilidade de vocalização emerge nos mamíferos, incluindo nossa espécie, a partir de análises genômicas das populações naturais dos cães cantantes. Déficits vocais nos humanos também podem ser melhor entendidos, propiciando oportunidades para novos tratamentos.



(1Publicação do estudo: PNAS


(2) Para mais informações, acesse: https://www.nghwdf.org/hwds


Conscientização: É preciso desestimular a demanda por cães braquicefálico

Na última década, a popularidade dos cães com focinho extremamente curto (ou cara-achatada) - cientificamente chamados de cães braquiocefálicos - aumentou dramaticamente ao redor do mundo, mesmo com cada vez mais evidências e publicidade internacional realçando os desafios de saúde que essas linhagens caninas enfrentam. Esses cães são fortemente predispostos a um amplo espectro de desordens intrinsecamente relacionadas à conformação dos seus crânios, incluindo doenças respiratórias, doenças oculares, distocia, doenças na coluna espinhal, derrame térmico e pneumonia. De fato, a expectativa de vida média desses cães é reduzida em 4,1 anos em comparação com outras linhagens caninas de focinho longo. 

         Nesse sentido, muitos veterinários e especialistas consideram os Buldogues (Inglês), Pugs e Buldogues Franceses como tendo saúde e bem-estar muito comprometidos para continuarem sendo procriados. Então por que as pessoas no público em geral continuam apoiando e incentivando cada vez mais a criação dos cães braquiocefálicos?


   CÃES BRAQUIOCEFÁLICOS

           Como todos os mamíferos, os cães (Canis lupus familiaris) nascem com um focinho bem curto, com o alongamento do rosto após o nascimento controlado por vários genes. Nos cães braquiocefálicos, um número de mutações afetam o desenvolvimento do osteoblasto assim como a fusão das suturas cranianas. Essas mutações - acompanhadas provavelmente por mudanças epigenéticas - causam uma inibição do crescimento pós-natal nos ossos dérmicos da região mediana da face (viscerocrânio) e que não parecem simultaneamente afetar as estruturas cranianas internas. Ao invés disso, os turbinais dentro da cavidade nasal continuam o crescimento após o alongamento da face ter parado prematuramente. 


          A presença de cães com focinhos curtos no Antigo Extremo Oriente data de até 2700 anos a.C., exemplos de linhagens caninas no Leste Asiático nesse sentido são o Pequinês e o Spaniel Japonês (Chin), os quais estão listados em documentos antigos desde do século XVII. Mais recentemente, houve confirmação via análise genômica da origem Chinesa do Pug (Ref.3). Durante a segunda metade do século XIX, o Pug sofreu um encurtamento ainda maior do focinho via seleção artificial, até o extremo fenótipo que observamos hoje. Os Buldogues Francês e Inglês são os outros exemplos de extremo encurtamento do focinho que ocorreu nas últimas décadas a partir de linhagens com focinho curto.



           Esse exagerado encurtamento observado nos Pugs e Buldogues - também observado em menor extensão no Boxer, no Boston Terrier e em  outras linhagens braquicefálicas menos extremas - culminaram em diversos problemas de saúde, os quais são sintetizados como síndrome braquicefálica (síndrome braquicefálica obstrutiva das vias aéreas ou síndrome braquicefálica das vias aéreas). A desproporção no crescimento entre os ossos extremos e os turbinais reduz o espaço para os fluxos de ar e causa um deslocamento adicional de alguns turbinais para dentro da passagem nasal (turbinais aberrantes rostrais) e para dentro do duto nasofaríngeo (turbinais aberrantes caudais), criando uma alta resistência à entrada e saída de ar. Os Pugs modernos também exibem turbinais menores, mais simples e mais soltos.



          O fluxo de ar através da cavidade nasal responde por 76,5% do total de resistência do fluxo de ar no trato respiratório, e não difere entre inspiração e expiração em cães normais. Cães braquicefálicos precisam superar o aumento de resistência nas vias aéreas (~16 vezes maior do que o normal), e, portanto, a exalação é forçada ao invés de ser passiva (como observado em cães não-braquicefálicos). O aumento negativo da pressão criado para superar essa resistência extra faz com que os tecidos moles se tornem inflamados, as amígdalas e os sáculos laríngeos everterem, e a laringe e traqueia colapsarem. Esse aumento de resistência também leva a um turbulento fluxo de ar, edema, e o aumento do barulho inspiratório comumente ouvido com os cães braquicefálicos. 

          Um alongamento do palato mole também é encontrado em 62-100% dos cães braquicefálicos, e seja isso uma consequência ou característica inata desses cães, é um traço anatômico que contribui para a resistência das vias aéreas superiores e para o barulho respiratório.


           Além disso, como pode ser observado na imagem abaixo, as mudanças ocasionadas pela conformação craniana braquicefálica leva a narinas estenóticas, onde a asa de ambas as narinas é deformada e a abertura é anormalmente estreita, às vezes reduzidas a apenas um estreita fenda vertical com quase completa obstrução nasal, o que também força esses cães a respirarem de forma quase contínua com a boca aberta.



   CAPACIDADE TERMORREGULATÓRIA

          A mucosa respiratório é de central importância para a termorregulação em mamíferos em geral. Durante o descanso e a baixas temperaturas ambientes, os cães respiram exclusivamente através do nariz; e durante exercícios e/ou a mais altas temperaturas, a cavidade oral é adicionalmente incluída na termorregulação através da ofegação. Os cães braquicefálicos, além das dificuldades respiratórias, possuem sérios prejuízos na capacidade termorregulatória que se manifestam como um comportamento ofegante a mais baixas temperaturas comparado com cães de focinhos mais longos, e também durante o descanso. Essa menor capacidade termorregulatória é devida, primariamente, a uma reduzida área superficial do maxiloturbinal. Esses problemas termorregulatórios também são englobados pela síndrome braquicefálica, e levam comumente a estados de superaquecimento corporal e até mesmo a derrames térmicos e morte.


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          Em mamíferos e outro animais endotérmicos, o epitélio respiratório dentro da cavidade nasal cresce de forma proporcional ao tamanho do corpo durante a ontogenia pós-natal. O aumento simultâneo da área superficial respiratória assegura o aumento requerido da taxa metabólica em associação com o aumento da massa corporal. Em contraste, o Pug e os Buldogues Francês e Inglês exibem uma inibição do crescimento anterior ao estado de completo crescimento do corpo. Nesse sentido, enquanto os que filhotes e indivíduos jovens dessas três linhagens caninas não exibem dificuldades respiratórias, os danos passam a ser cada vez mais perceptíveis a partir dos ~12 meses de idade.


   SINAIS CLÍNICOS

          Típicos sinais clínicos da síndrome braquicefálica podem incluir ruído ressoado durante a respiração, estridor, dispneia inspiratória, tendência ao superaquecimento do corpo, ronco, tosse, intolerância a exercícios físicos, aumento do esforço respiratório e hipertermia. Esses sintomas podem progredir levando a baixos níveis de oxigênio no sangue, com subsequente colapso e até mesmo morte. Devido ao fato dessa síndrome ser uma doença progressiva, sinais clínicos podem variar de um aumento mínimo no esforço respiratório até crises respiratórias severas devido ao fechamento das vias aéreas e o colapso laríngeo. 

            Além dos sinais clínicos mais comuns observados nos animais despertos, sufocação pode também ocorrer durante o sono como resultado do relaxamento dos tecidos laríngeos. Essa é uma forma de apneia do sono, e pode piorar o inchaço laríngeo e edema, e ao longo do tempo pode contribuir para o colapso da laringe.

          Complicações gastrointestinais também podem ser observadas nos cães com síndrome braquicefálica, como vômitos e regurgitações frequentes, e ptialismo (secreção excessiva de saliva). 

          A síndrome obstrutiva braquicefálica das vias aéreas geralmente é diagnosticada em cães com 2-3 anos de idade, mas pode ser severa mesmo em filhotes com menos de 6 meses de idade.


          Complicações médicas adicionais devido à estrutura craniana dos cães braquicefálicos incluem dermatite associada à dobradura da pele, doenças oculares, doenças da coluna espinhal, derrame térmico, maloclusão, hidrocéfalo, e paralisia do nervo facial. Eventos adversos após procedimentos de anestesia também parecem ser mais comuns entre os cães braquicefálicos (Ref.4). Existe também um aumento de risco reportado de ~3,8 vezes para pneumonia de aspiração entre os cães braquicefálicos do que em outras linhagens caninas (Ref.5).

          Os cães braquicefálicos também são mais afetados por problemas reprodutivos, primariamente distocia. Por exemplo, mais de 85% dos Buldogues no Reino Unido nascem via cesárea. A alta taxa de distocia nesses cães é devido ao fato da cabeça do filhote ser muito grande para passar através do canal vaginal.


   INTERVENÇÕES

          Cães com doença braquicefálica das vias aéreas podem se beneficiar com um controle da massa corporal (emagrecimento), apesar de resultados conflitantes na literatura acadêmica. Atividades que aumentam o esforço respiratório e de ofegação devem ser evitados, incluindo longas caminhadas com coleira no pescoço durante os horários mais quentes do dia. Leve sedação e medicamentos anti-inflamatórios podem também ser efetivos na redução do inchaço laríngeo, este o qual leva a crises braquicefálicas aéreas. Cirurgias acabam sendo frequentemente requeridas. Cães braquicefálicos também devem evitar ao máximo excitamento ou estresse, ou muita umidade.


          Quanto mais cedo o diagnóstico da síndrome braquicefálica, melhor o prognóstico, onde intervenções cirúrgicas podem minimizar a progressão do problema para estágios mais avançados e danos irreversíveis. Rinoplastia para alargar as narinas pode ser benéfica em filhotes tão novos quanto 3-4 meses de idade. Resseção do palato mole pode remover o excesso do tecido palatal caudal, e facilitar também a respiração.


   POPULARIDADE E PARADOXO

          Apesar desses problemas todos relatados, as pessoas no público em geral continuam criando e incentivando a criação dos cães braquicefálicos. Coletivamente, as pertubações levando à síndrome braquicefálicas possuem um severo impacto no bem-estar dos animais afetados, estes os quais podem expressar pouca ou quase nenhuma atividade física ou de entretenimento porque estão inteiramente ocupados com a difícil tarefa de respirar. Muitos desses cães continuarão tendo uma qualidade de vida comprometida mesmo após correções cirúrgicas - procedimentos estes os quais já estão associados a sérios riscos.

          De fato, em 2017, a Associação Britânica Veterinária anunciou que não iria mais usar imagens de cães braquicefálicos nas suas propagandas e em campanhas diversas, visando diminuir a demanda por essas linhagens caninas. Uma pesquisa em 2013 entre os veterinários da Nova Zelândia concluiu que esses profissionais consensualmente concordam que o Pug, Buldogue e Buldogue Francês possuem "saúde e bem-estar muito comprometidos para continuarem sendo procriados."


           Um dos principais problemas identificado em estudos diversos é que a maioria dos donos de cães braquicefálicos acreditam que sintomas respiratórios e outras manifestações clínicas adversas típicas desses cães são 'normais'. Um recente estudo Britânico demonstrou que 60% dos donos de cães braquicefálicos reconhecem os sinais clínicos da síndrome braquicefálica nos seus animais mas ignoram tais sinais como 'normais para a linhagem', e, mesmo reportando uma alta frequência e severidade de sinais clínicos, continuavam acreditando que não existia problema respiratório (Ref.2).

          Um estudo publicado em 2019 no periódico PLOS ONE (Ref.6), investigando 2168 donos de Pugs e Buldogues (Francês e Inglês), mostrou que 20% deles reportaram que seus cães foram submetidos a pelo menos uma cirurgia associada à conformação da estrutura craniana; 36,5% dos cães foram reportados com um problema de termorregulação; e 17,9% com problemas respiratórios. Apesar de estarem cientes desses frequentes problemas de saúde, 70,9% dos donos consideravam que seus cães possuíam uma saúde muito boa ou a melhor saúde possível. Paradoxalmente, apenas 6,8% dos donos consideravam seus cães de serem menos saudáveis do que a média das respectivas linhagens caninas. 

          Esse último estudo também mostrou que os donos desses cães braquicefálicos possuem relações extremamente fortes com esses animais. Ou seja, é um complexo fenômeno caracterizado por uma forte ligação dono-cão e percepções não realísticas de boa saúde mesmo contra altos níveis de doenças em espécimes relativamente jovens. Proximidade emocional ao cão se mostrou mais alta para donos de Pugs (o mais extremo em termos de fenótipo braquicefálico), donas (mulheres) e donos com crianças na casa.

          É proposto que a distinta aparência física do rosto dos cães braquicefálicos, englobando uma testa grande, olhos grandes e caídos, e bochechas salientes, possa engatilhar uma atração humana instintiva devido à similaridade dessas características faciais com os rostos de bebês humanos. Esse estímulo 'infantil' está associado com emoções positivas e respostas de cuidado maternal/paternal. Estudos empíricos já demonstraram que características infantis em gatos, cães e ursos aumentam a atratividade desses animais, e que mulheres mostram maiores taxas de afinidade com características infantis em animais de estimação do que os homens.

         Outro estudo publicado este ano também na PLOS ONE (Ref.7), e realizado pelos mesmos autores e usando os mesmos participantes do último estudo (Ref.6), encontrou que 93% dos donos eram altamente prováveis de querer outro cão braquicefálico no futuro e que 65,5% recomendavam seus cães para outros donos. As principais recomendações positivas eram atribuídas ao comportamento de companheirismo do cão, adequação a um estilo de vida sedentário em um espaço limitado, e adequação para casas com crianças. Ter um cão pela primeira vez e um longo tempo de convívio aumentavam a força da recomendação e do desejo de aquisição futura. Os atributos de não-recomendação estavam ligados à alta prevalência de problemas de saúde, altos gastos com cuidados, problemas éticos e de bem-estar associados à síndrome braquicefálica, efeitos negativos no estilo de vida do dono e atributos comportamentais negativos. 

           Nesse sentido, outro importante problema que acaba fomentando o desejo das pessoas de manterem ou recomendarem os cães braquicefálicos - e que se une às feições faciais e comportamento desses cães - é o fato de muitas pessoas realmente não conhecerem a associação entre conformação craniana desses cães e problemas de saúde. Por exemplo, em um estudo apresentando este ano no BSAVA Congress Proceedings 2020 (Ref.8), pesquisadores encontraram que entre 587 participantes, 69,9% deles eram familiares com o termo 'braquicefálico', mas que apenas 41,5% conheciam o termo BOAS (termo em inglês muito comum para se referir à síndrome braquicefálica obstrutiva da vias aéreas). Antes de uma intervenção educacional, a maioria dos participantes consideravam que os seguintes sinais clínicos eram algo normal (não ligado a prejuízos) nos cães braquicefálicos: ronco (89,7%), respiração alta (78%) e respiração forçada (65%). Após uma intervenção educacional (conscientização), 53% deles responderam que tiveram suas opiniões sobre os cães braquicefálicos alteradas, e com 77,5% deles expressando o desejo de não recomendar essas linhagens caninas para amigos e familiares; quase 98% passaram a acreditar que o público deveria estar mais consciente sobre a síndrome braquicefálica e 99,5% acreditavam que potenciais donos de cães braquicefálicos deveriam estar cientes dessa síndrome.



          Essa falta de conhecimento ou busca por conhecimento sobre os sérios problemas de saúde associados aos cães braquicefálicos pode estar associado ao fato das pessoas acreditarem que se um grupo de animais com certos traços fenotípicos existe, é porque aqueles traços são 'naturais' e adequados àqueles animais. E talvez essa percepção possa estar associada com uma falta de conhecimento sobre processos evolutivos, onde traços deletérios podem persistir a nível populacional dependendo dos mecanismos e pressões evolutivas associadas. No caso, as diferentes linhagens de cães foram criadas via processo de domesticação por seleção artificial, onde a seleção de traços fenotípicos respeitou apenas às necessidades humanas, em detrimento ou não da saúde e da capacidade de adaptabilidade desses animais.


   CONCLUSÃO

          Apesar dos vários problemas de saúde e prejuízos ao bem-estar associados aos cães braquicefálicos, a demanda por essas linhagens caninas continua aumentando de forma robusta ano após ano. Muitas pessoas desconhecem a síndrome braquicefálica e outras complicações de saúde que enfrentam esses cães, especialmente Pugs e Buldogues. Maior conscientização é necessária para diminuir drasticamente a demanda por esses cães, os quais tendem a passar mais tempo das suas vidas lutando para respirar do que aproveitando minimamente o passar dos anos.


REFERÊNCIAS CIENTÍFICAS

  1. https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S1938973613000548
  2. https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0021997520300232
  3. https://anatomypubs.onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/ar.24422
  4. https://avmajournals.avma.org/doi/abs/10.2460/javma.253.3.301
  5. https://avmajournals.avma.org/doi/abs/10.2460/javma.253.7.869
  6. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0219918
  7. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0237276
  8. https://www.bsavalibrary.com/content/chapter/10.22233/9781910443774.ch70sec6