domingo, 28 de fevereiro de 2021

Especialistas alertam para o perigo de misturar raças como fila e pit bull

 postado em 31/07/2008 08:03

A violência do ataque canino que tirou a vida de Vitor Ribeiro Brito, 9 anos, nesta quarta-feira (30/07) tem explicação. Segundo especialistas, os quatro cachorros ; uma mistura entre as raças fila brasileiro e pit bull ; trazem na carga genética o instinto assassino e não deveriam ser usados para a guarda de casas. O fato de estarem em bando também contribuiu. Os cães agem de forma solidária em grupo: quando um ataca, os outros fazem o mesmo. O mais provável é que os cachorros tenham atingido primeiro o pescoço da vítima, comportamento típico de cães de caça para matar a presa de forma mais rápida. Isso teria silenciado Vitor e explicaria o fato de ninguém ter ouvido o garoto gritar por socorro. O professor do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade de Brasília (UnB) Vaner de Souza explica que a diversidade de raças caninas é resultado da seleção humana. Ao longo da história, os homens escolheram e cruzaram os animais de acordo com o fim desejado. ;Para caçar, escolhiam um animal de grande porte, forte e veloz. Para companhia em casa, selecionavam os menores e mais dóceis;, exemplificou. No casos das duas raças envolvidas na tragédia de ontem, diz o especialista, a mistura é explosiva. O pit bull, de origem inglesa, foi geneticamente selecionado para atacar outros cachorros, nas antigas rinhas entre cães. O corpo musculoso e a potente mordida ajudavam a agüentar as batalhas. O fila brasileiro surgiu de uma seleção na Roma Antiga, cuja finalidade era encontrar um cão para abocanhar e dominar grandes presas, como veados e onças. Durante a escravidão no Brasil, esse cães chegaram a ser usados na captura de escravos que fugiam das fazendas. ;Unir essas duas raças, que trazem o instinto da caça, do ataque, e colocá-las dentro de casa é um perigo para todos os moradores. Apesar de acostumados com os donos, o animal pode ter desvios de comportamento;, explica Vaner. E foi isso o que ocorreu na manhã de ontem, quando os quatro cães não deram chances para o pequeno Vitor, que os conhecia desde filhotes. O garoto saiu da casa dos pais por volta das 6h e seguiu para a casa da tia, a poucos metros dali. Não havia ninguém a acordado. De acordo com o professor da UnB, um dos cães pode ter confundido o garoto com uma pequena presa ou outro cão. ;Em bando, os cães têm um líder e agem sempre em conjunto. Quando o primeiro partiu em direção à criança os outros naturalmente foram atrás;, completa o veterinário. Ninguém ouviu os gritos do garoto, que foi encontrado sem roupa e já abandonado pelos cães. O ataque na jugular ; região da garganta ; pode ter afetado as cordas vocais do menino, que provavelmente lutou em silêncio contra os algozes. Danos e cuidados O veterinário e professor da UnB explica que tragédias como a de ontem podem ser evitadas se os donos de cachorros tomarem certos cuidados ao escolher a raça e educar o animal de estimação. Segundo ele, entre as raças mais indicadas para o convívio e segurança doméstica estão o pastor alemão, o doberman e o pastor belga. ;São cães de grande porte, pouco agressivos, com faro e audição bem desenvolvidos;, explica. No entanto, também é preciso educar os animais da forma correta: ;É preciso que o dono se mostre como líder para deixar claro a hierarquia entre ele e o animal;. Outro fator determinante para evitar problemas com cachorros em casa é investir na socialização dos animais. O contato dos bichos com outros cães e pessoas ajuda na domesticação. ;Antes de escolher o cão deve-se procurar um especialista para orientar. A presença de crianças em casa é um ponto fundamental na escolha de um animal;, encerra Vaner de Souza, que também critica a falta de ações públicas para combater o problema com animais domésticos no país.

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