Costumo caminhar aos domingos pelo parque da minha cidade. Outro dia, passei por momentos de tensão. Estava quase chegando no portão de entrada quando ouvi atrás de mim o som característico de patinhas de cachorro batendo no chão. Quando me virei, um enorme rotweiller corria em minha direção desenfreadamente. Fiquei gelada e sem reação enquanto os donos gritavam energicamente com o cão e ele resolveu dar meia volta e retornar ao lugar de onde havia fugido.
Pensei comigo, passado o susto, se ele estivesse a fim de atacar, nada o impediria. Ele apenas desistiu, talvez por inspiração de algum anjo que me protege.
O animal não tem culpa, é o mais inocente nesta história, pois vive sempre preso em um lugar que não comporta sua força e tamanho. Nunca sai, está obeso e também muito estressado. Isso tudo junto é um perigo. Mas só serão tomadas providências no dia em que o cão atacar, morder, trucidar e talvez até matar alguém. Eu soube que os donos a mantêm cativa, é uma cadela, em um espaço muito pequeno, e inclusive não é bem tratada e apanha. Que tipo de reação podemos esperar de uma fera enjaulada, ao fugir e encontrar um estranho pela frente?
Por essas e outras é que muita gente defende a extinção das raças perigosas, isto é, castração obrigatória de machos e fêmeas até que acabem todos os exemplares dessas máquinas mortíferas que o homem criou para servir de arma.
Fica a minha pergunta: será que alguém já ouviu falar de algum ladrão que foi pego por um rotweiller, fila ou um pitbull? Creio que a resposta será negativa. Ladrões planejam estratégias e sabem como lidar com os cães. Colocam calmante em bolinhas de carne, atiram dardos com sonífero ou dão tiros de verdade para matá-los. Os amigos do alheio sempre estão equipados para todo tipo de obstáculo. Se eles elegem uma casa para roubar, não existem barreiras que os separem de sua decisão, e não serão os cães de guarda que vão persuadi-los a mudar de ideia, são apenas um desafio a mais. Mas crianças, idosos e pessoas incautas já pagaram com a vida pela irresponsabilidade de alguns proprietários.
Cada vez mais cães estão sendo criados e vendidos. Esse tipo de comércio está em alta e dá muito dinheiro. Veterinários são contra a extinção dessas raças porque muitos clientes são criadores. Ouvi falar até de uma nova raça que estão importando – a preços exorbitantes – quando o nosso bom e velho vira-lata, além da fidelidade irrestrita ao dono, ainda é o melhor cão de guarda, que pode dar até a vida pelos humanos que ama.
A lei existe e tem que ser severa com os proprietários irresponsáveis. Chega de omissão, de criar feras em cubículos, de incitá-las a matar cães menores e gatos da vizinhança. Existem pessoas que se sentem maiores e mais fortes só porque passeiam com enormes cães ferozes e mal humorados. Chamo a isso de complexo de inferioridade, gente que precisa de auto-afirmação.
Eu adoro animais, luto contra maus tratos, condeno o abandono, não gosto de vê-los presos em correntes, mas deploro o comportamento irracional de certos donos.
Que as autoridades competentes façam com que se cumpra a lei, antes que mais tragédias se concretizem.
—
Ivana Maria França de Negri é escritora, colunista fixa de vários jornais e integrante, há 10 anos, da SPPA – Sociedade Piracicabana de Proteção aos Animais.
http://amarnatureza.org.br/site/abatedouro-de-caes,21448/
http://amarnatureza.org.br/site/ataques-de-caes-e-donos-irresponsaveis,47087/
IVANA MARIA FRANÇA DE NEGRI
ivanamfn@yahoo.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário