Cães do demônio continuam com
ataques sem que autoridades e políticos criem leis para proteger o ser humano.
Pitbull arrancou lábio, bochechas e parte do nariz da criança; reimplante feito no Hospital das Clínicas é inédito
Pedaço do rosto ficou no chão e avô voltou para buscá-lo; socorro rápido foi crucial para o sucesso, diz cirurgiã
Eduardo Knapp/Folhapress |
O menino Murilo Rocha brinca em casa após reimplante |
DE SÃO PAULO
Um menino de dois anos é atacado por um pitbull e tem o lábio superior,
as bochechas e parte do nariz arrancados na mordida. O avô avança sobre o
cão e consegue fazê-lo soltar o retalho de pele, músculo e cartilagem.
Sangrando muito, a criança é levada pelos avós a um posto de saúde
próximo. Lá, os médicos acionam o helicóptero Águia da PM. A avó se
lembra, então, de que um pedaço do rosto do neto havia ficado no local
do ataque, e o avô corre para buscá-lo.
Meia hora depois, o garoto já está no Hospital das Clínicas de São Paulo
sendo preparado para o reimplante de parte da face mutilada.
Passados 22 dias do ataque e 11 da alta hospitalar, Murilo se alimenta
normalmente, brinca, conversa, sorri e não fala mais sobre o cão. Nos
primeiros dias, repetia: "Mamãe, au-au modeu Lililo."
A incrível história de "Lililo" não só comoveu a equipe médica do HC
como também entrará para os anais da cirurgia plástica reparadora.
Não há registro na literatura médica mundial de uma criança tão nova ter sido submetida, com sucesso, a esse tipo de reimplante.
TEMPO
"O tempo é crucial. O segmento [pedaço da face] fica sem sangue, morre
naquela hora. O socorro tem de ser rápido. O jeito certo de conservar o
tecido também é fundamental", diz a cirurgiã plástica do HC Rachel
Baptista, 30, formada pela USP e com especialização na Espanha.
Ela e o namorado Guilherme Barreiro, 30, médico assistente do HC, são os
responsáveis pelo reimplante. Estavam de folga (era sábado) quando
foram chamados.
"As chances de dar errado eram imensas. A habilidade do cirurgião conta
muito, mas, para mim, isso foi um milagre", diz Barreiro, egresso da
Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e com especialização no
Japão.
Antes do início da cirurgia, o pedaço da face de Murilo foi limpo com soro fisiológico.
"Estava bem machucado porque foi mastigado pelo cão. Também tinha resto
de terra e grama", conta Barreiro. O menino recebeu antibióticos para
evitar possível infecção e vacina anti-rábica.
Tudo nesse tipo de cirurgia é micro. As artérias e veias do menino
mediam 0,7 mm e 0,3 mm, respectivamente, e o fio usado para suturá-las
era dez vezes mais fino do que um fio de cabelo. A operação foi feita
com microscópio que amplia o campo em 20 vezes. "São instrumentos
delicados, e as estruturas são muito pequenas. Foi glorioso termos
encontrado veias. Isso é raro", explica Rachel.
Três dias após a cirurgia, Murilo teve de ser reoperado porque o
implante começou a necrosar. "Às 11h, ficou roxo. A gente abriu os
pontos e raspou", diz Barreiro.
Segundo Rachel, as condições clínicas do garoto favoreceram o problema.
"Ele estava anêmico, e o tubo da respiração tinha saído da posição
certa. Isso instabilizou a parte mais sensível do corpo, a área do
reimplante."
FAMÍLIA
Depois do susto, a recuperação de Murilo segue sem sobressaltos. "Os
médicos nos prepararam para o pior. Mas a recuperação foi assombrosa",
diz a mãe, a dentista Helen Rocha, 25, que estava trabalhando no dia do
ataque.
Ela mora com o filho na casa dos pais, que fica num condomínio em São
Bernardo do Campo (ABC). O pitbull era do vizinho. "Já tínhamos
reclamado, mas ele não tomou providências." O dono do cão está sendo
processado.
Na hora do ataque, Murilo e o avô, Walter Rocha, estavam na área externa
do condomínio. "Quando vi, o cachorro estava com o rosto do meu neto
dentro a boca. Tentei abrir os dentes dele, mas o bicho tinha muita
força. Quando soltou, o pedaço [do rosto] caiu da boca dele."
Walter conta que não tinha esperança de que o tecido pudesse ser reimplantado.
"Estava todo mordido, só peguei por desencargo de consciência, porque minha mulher tinha mandado."
Fonte:
Será que vai ser preciso um chute
no cú de políticas e autoridades para que leis mais severas sejam criadas como
a proibição dessas raças no Brasil...
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