03/10/2008 às 23:55
| ATUALIZADA EM: 03/10/2008 às 23:58 | COMENTÁRIOS (26)Tiro de PM em cão gera vários protestos
João Eça, do A TARDECristiano, cuja residência é o passeio da Praça Municipal, tem 35 anos e é conhecido como Índio. Ele relatou que dormia próximo à Casa Legislativa quando acordou com os chutes do PM, que faz a segurança do prédio da Câmara Municipal.
Segundo ele, ao perceber as agressões, o cão, chamado Branco, começou a latir, no instinto de defender o dono. Foi quando o policial sacou o revólver e atirou contra o animal.
“Branco tentou dar a vida por mim. Após o tiro, ele ficou chorando no chão. Carreguei ele nos braços e saí em busca de socorro. Eu cuido de mais de 14 cachorros, e Branco era o mais apegado a mim, juntamente com Pretinha e Piaba”, contou Índio, acrescentando que é querido “porque trato eles com carinho”.
A bala disparada pelo soldado atravessou o pescoço do cachorro e atingiu o tórax, onde ficou alojada. Branco foi socorrido pela comerciante Priscila Cerqueira, 24 anos, que o levou no próprio carro para a clínica veterinária Planeta Animal, no bairro da Barra, onde foi submetido, ainda na tarde desta sexta-feira, 3, a uma cirurgia para a retirada do projétil.
De acordo com a médica veterinária Gabriela Azevedo, o quadro de saúde do cachorro era estável, “mas inspira muitos cuidados”. Gabriela afirmou nunca ter presenciado um caso de agressão a tiros contra um animal cometido por um policial. “Geralmente, quem atira em cachorros que atendemos são assaltantes”, relatou a médica veterinária.
Cíntia Chagas, também veterinária da clínica, não escondeu a revolta pela agressão ao melhor amigo do homem. “Ficamos indignados. Quem comete um ato deste tem a certeza da impunidade, é uma pessoa que não tem respeito pelos animais. O cachorro Branco estava defendendo o amigo, sem nenhum interesse, pois o morador de rua não tem comida, não tem nada a oferecer a ele, apenas a amizade”, ressaltou Cíntia.
DESPESA – Os custos do tratamento hospitalar serão financiados com a ajuda de moradores e comerciantes do Centro. Os médicos da clínica onde ele foi atendido abriram mão dos valores a que teriam direito, cobrando somente pelo material cirúrgico. O valor total, que seria de R$ 3 mil, ficou por R$ 1 mil.
Até o início da noite desta sexta-feira, 3, menos de R$ 100 tinham sido arrecadados, conforme informou Priscila Cerqueira, que terá de arcar com a despesa, debitada no cartão de crédito dela, caso não haja outras contribuições.
A provável dívida, porém, não era o que deixava a comerciante revoltada. Ela ajuda a cuidar das dezenas de cães que são abandonados no centro de Salvador, inclusive adotando alguns, e estava indignada com o PM que alvejou o animal. “Os cachorros daqui não mordem ninguém. Aliás, eles só tentam morder os usuários de drogas. Essa agressão foi um absurdo, uma covardia, esperamos que isto não se repita jamais”, cobrou Priscila.
“Eu quero justiça, pois um policial não podia agir desta maneira”, desabafou o morador de rua Índio, que tira o sustento com dinheiro que recebe como guardador e lavador de carros naquela região do Centro Histórico.
http://www.atarde.com.br/cidades/noticia.jsf?id=976051
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